O fumo sempre foi um assunto polêmico e causador de frequentes discussões, sobretudo pelos malefícios que causa a saúde das pessoas que tem o hábito de fumar. Por outro lado, há inúmeras famílias de agricultores que padecem dos males provocados pelo cultivo do fumo e sequer são lembradas.
Para produzir fumo de qualidade, o agricultor necessita aplicar sessões de agrotóxicos, fica exposto as intempéries climáticas para fazer a colheita na maturação certa das folhas, tem o sono interrompido várias vezes a noite para cuidar dos fornos durante a secagem, passa horas em posições desconfortáveis para colher, transportar e classificar as folhas. Resumindo, trabalha feito “um burro de carga”. Esse excesso de trabalho, afeta o organismo dos agricultores acarretando problemas físicos e mentais (depressão).
Em Pinheiral de Baixo o cultivo do fumo iniciou-se na década de 60, sendo o Sr. Antonio Wendler o pioneiro, seguido de Nivaldo Hass, Ernesto Gross, Sebastião Gross e outros. De lá pra cá, as áreas cultivadas aumentaram consideravelmente. O fumo tornou-se a principal atividade econômica de 90% dos agricultores pinheiralenses. Não porque eles assim o desejem. O fumo possui maior rendimento comparado ao de outras culturas, pode ser cultivado em pequenas áreas, não necessita de grande infra-estrutura (pois o trabalho é praticamente todo manual), ocupa toda mão-de-obra existente na família e o comércio é garantido pelo contrato com as fumageiras. Estes são alguns motivos que fazem com que os agricultores permaneçam nessa atividade agrícola degradante.
O cultivo do fumo é sistemático e envolve o fumicultor por aproximadamente 10 meses no ano. A seguir acompanhe as principais fases do seu processo produtivo.
Geralmente o produtor utiliza bandejas de isopor pra fazer a semeadura (método float). As 200 repartições da bandeja são preenchidas com substrato e depositadas em “piscinas” de lona feitas no chão, cheias de água, agrotóxicos e fertilizantes. As mudinhas ficam no canteiro por aproximadamente 60 dias e nesse período o canteiro precisa ser examinado regularmente, para fazer a reposição da água, reaplicação de agrotóxicos e a poda das mudas.
Depois que a muda está formada ela é replantada no terreno definitivamente. O plantio deve acontecer logo após as chuvas, pois assim o terreno está bem úmido e a pega é garantida. Se ocorrer estiagem por longo período, os agricultores são obrigados a fazer a rega manual. Até chegar a época da colheita, os agricultores precisam capinar, pulverizar as pragas e fazer a capação (quebra da flor). Esse processo leva cerca de 2 meses e meio.
A colheita e secagem acontecem simultaneamente. Essa é a etapa do processo produtivo mais cansativa, esgotante, penosa e desconfortável . Inicialmente o agricultor colhe o baixeiro (folhas rentes ao chão) e à medida que as folhas maduram colhe o restante. É preciso repassar de 5 a 6 vezes o mesmo pé de fumo. Esta etapa do trabalho acontece nos meses de dezembro, janeiro e fevereiro. O fumicultor passa horas curvado, carregando maços pesados de folhas, sob o sol e calor insuportável, isso quando não é pego de surpresa pelas repentinas chuvas de verão. A nicotina presente nas folhas do fumo entra em contato com a pele dos agricultores e causa a “Doença do Tabaco Verde” provocando vômitos, dores estomacais, dores de cabeça, tontura, fraqueza, dificuldades para dormir, entre outros.
Depois de colhido, o fumo é transportado até as estufas onde ocorre a “secagem” das folhas, durante uma semana em média. Para isso, o agricultor precisa alimentar os fornos noite e dia, pois oscilações bruscas na temperatura da estufa afetam a qualidade do produto. As noites mal dormidas são outra grande dificuldade enfrentada nessa etapa.
Após secas, as folhas são depositadas no paiol, onde mais tarde passarão por um processo de classificação por cor, tamanho e espessura. Em seguida são feitas as manocas ou bonecas (várias folhas da mesma classificação são amarradas umas nas outras pelo talo) e finalmente o fumo é enfardado. Essa etapa é rotineira e desconfortável, pois os fumicultores passam os dias sentados no chão, manuseando as folhas, aspirando pó e sentindo um cheiro ruim que só o fumo sabe ter. Depois de pronto, os fardos são enviados as empresas fumageiras que normalmente pagam um preço muito abaixo do esperado pelo agricultor.
Para saber mais sobre esse assunto acesse o item de referência: http://hdl.handle.net/10183/22063