segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

O Pássaro Cativo


Armas, num galho de árvore, o alçapão;
E, em breve, uma avezinha descuidada,
Batendo as asas cai na escravidão. 





Dás-lhe então, por esplêndida morada, 
   A gaiola dourada;
Dás-lhe alpiste, e água fresca, e ovos, e tudo:
Porque é que, tendo tudo, há de ficar
       O passarinho mudo,
Arrepiado e triste, sem cantar?


É que, crença, os pássaros não falam.
Só gorjeando a sua dor exalam,
Sem que os homens os possam entender;
Se os pássaros falassem,
Talvez os teus ouvidos escutassem
Este cativo pássaro dizer:


 “Não quero o teu alpiste!
Gosto mais do alimento que procuro
Na mata livre em que a voar me viste;
Tenho água fresca num recanto escuro
    Da selva em que nasci;
      Da mata entre os verdores,
     Tenho frutos e flores,
     Sem precisar de ti!

Não quero a tua esplêndida gaiola!
Pois nenhuma riqueza me consola
De haver perdido aquilo que perdi ...
Prefiro o ninho humilde, construído
De folhas secas, plácido, e escondido
Entre os galhos das árvores amigas ...

 

  Solta-me ao vento e ao sol!
Com que direito à escravidão me obrigas?
Quero saudar as pompas do arrebol!
  Quero, ao cair da tarde,
Entoar minhas tristíssimas cantigas!

Por que me prendes? Solta-me covarde!
Deus me deu por gaiola a imensidade:
Não me roubes a minha liberdade ...
Quero voar! voar! ... "
Estas cousas o pássaro diria,
Se pudesse falar.
E a tua alma, criança, tremeria,
    Vendo tanta aflição:
E a tua mão tremendo, lhe abriria
     A porta da prisão...
   Olavo Bilac
Do livro: Poesias Infantis, Ed. Francisco Alves, 1929, RJ.





2 comentários:

  1. Sandreli,
    As fotos fazem justiça ao excelente poema de Bilac, parabéns.
    Alguns Hai kais que fiz sobre aves:

    Tico-tico pia
    Enquanto a fêmea
    Cuida da cria.


    Rouxinol canta
    Cantando anuncia
    Hora da janta.


    A andorinha
    Gosta de fazer verão
    Nunca sozinha.


    Uma gaivota
    Se não ficar piando
    Ninguém nota.


    A seriema
    Corre pelos campos sem
    Nenhum problema.


    Ema chapada
    Correndo como louca
    Pela estrada.


    Pio do gavião
    Se sabiá quer viver
    Presta atenção.


    Velha coruja
    Fotografe-a logo
    Antes que fuja.


    Belo canário
    Caramelo douro
    Mescla cenário.


    Gavião rapace
    Seu ataque exige
    Um desenlace.


    As andorinhas!
    Adoro elas como
    Se fossem minhas.


    Verde sanhaço
    Com folhas confunde-se
    Não deixa traço.


    O quero-quero
    Sentinela dos pampas
    Leal, sincero.


    Foi urubu-rei
    Quem comia carniça
    Agora não sei.


    Esperto gavião
    Come tudo que vier
    Rei do sertão.


    Vistosa gangue
    Aquarela de aves
    Os tiés-sangue.

    ResponderExcluir