quinta-feira, 10 de novembro de 2011

As borboletas





As borboletas

(Vinicius de Moraes)

Brancas, azuis, amarelas e pretas.
Brincam na luz as belas borboletas.
  
Borboletas brancas são alegres e francas.

Borboletas azuis gostam muito de luz.



As amarelinhas são tão bonitinhas!
   
E as pretas, então...
Oh! Que escuridão.


LEPIDÓPTEROS

As borboletas são, possivelmente, os insetos mais vistosos, mais ornamentais, mais apreciados pela beleza das asas, mais citados pela literatura poética, mais impressos, pintados e desenhados, mais úteis para polinização e, paradoxalmente, mais massacrados pelo homem. Seja para confeccionar adornos de discutível gosto para vender a turistas, ou espetar alfinetes e “colecioná-las” sem qualquer critério; seja pelo nefando hábito de matar taturanas e mandorovás e bichos-cabeludos, os pobres insetos servem aos instintos mórbidos e ganância comercial humanos numa escala sem precedentes e, pior, sem terem “culpa no cartório”.
Sempre que vejo alguém eliminando lagartas das plantas pergunto o porquê e, quase sempre a resposta é porque são nocivas, feias, prejudiciais. Quando pergunto se a pessoa gosta de borboletas a resposta, invariavelmente é sim. Comportamento paradoxal, as mesmas lagartas que são mortas por serem feias, seriam as borboletas que alegrariam a vista do matador perverso e traria o sorriso no rosto de uma criança inocente.
A maioria dos lepidópteros não é prejudicial ao homem. As borboletas e mariposas têm papel fundamental na polinização das flores. As lagartas, que são as larvas, podem, por sua vez, causar danos em lavouras ao se alimentar, mas fertilizam o solo com as fezes, e os adultos polinizam as mesmas plantas as quais servem de alimento para suas crias, numa espécie de mutualismo que compensa o dano causado pela alimentação; e algumas são importantes comercialmente, como o bicho-da-seda, borboletinha domesticada pelo homem para fornecer a tão estimada fibra para confecção de tecidos finos e caros.
As borboletas são insetos com dois pares de asas com membranas cobertas com escamas e peças bucais adaptadas para a sucção. Embora os lepidópteros pareçam frágeis e apresentem um vôo errático, aparentemente sem direção definida, eles constituem o exemplo mais extraordinário de resistência e de migração a longa distância de qualquer inseto que se tem notícia. A belíssima borboleta-monarca é um animal migratório que, para fugir do frio, costuma viajar todos os anos do Canadá ou dos EUA para o México numa viagem que pode atingir 5950 quilômetros em sete semanas, sem qualquer alimentação ou parada para descanso durante o trajeto.
A ordem Lepidoptera compreende duas subordens: Rhopalocera, que apresenta exemplares adultos que voam durante o dia e são denominados borboletas, e Heterócera, que tem atividade noturna e cujos exemplares são chamados de mariposas, bruxas ou borboletas noturnas, em Portugal são chamadas de traças, não me perguntem por quê. Em geral, é possível distinguir borboletas de mariposas quando estão pousadas, as primeiras costumam manter as asas abertas e as outras fechadas. A metamorfose das mariposas faz-se dentro de um casulo mole; as borboletas segregam uma crisálida rígida. As borboletas são em geral coloridas; as bruxas têm coloração sem viço adaptada ao modo de vida noturno. O corpo das borboletas é delicado, costuma ser fino e alongado; as mariposas têm formas mais pesadas, geralmente arredondadas e robustas.  
No Brasil existem aproximadamente 50.000 espécies de lepidópteros, 57 delas ameaçadas de extinção. As borboletas são fecundadas pelo macho após deixarem a crisálida. A fêmea procura uma planta para colocar seus ovos, em alguns dias os ovos eclodem e saem lagartas que comem a casca dos ovos e a partir daí começam a comer folhas e não fazem outra coisa senão comer. A próxima etapa da metamorfose das borboletas é chamada pupa. Na crisálida, a lagarta se transforma em borboleta lentamente. Quando o processo de transformação termina, a crisálida se abre e a borboleta sai. Quando sua asa estica e fica seca, a borboleta está pronta para voar e alegrar as vistas daqueles que as apreciam, tanto quanto as eliminam.
Como citei no início, estes insetos estão presentes na literatura e no imaginário popular, são bonitas e símbolo do etéreo e do poético e, acrescento, de forma lírica ou inspiradora, como musas ou adornos da cena romântica, como acessórios de um panorama ou paisagem e, quase nunca, como protagonistas de desejo ou fonte de uma paixão. Thi Perini, autor de “divagações adolescentóides” segundo ele, escreveu um relato de experiência infantil que considero o melhor texto que já li tendo uma borboleta como objeto de paixão: “Quando eu era criança, bem criança e vivia num sítio, passava as tardes brincando sozinho, nadando no córrego, explorando as grutas e apagando as queimadas que os fazendeiros faziam nos sítios vizinhos, uma vez uma borboleta encanou de me seguir. Pra onde quer que eu fosse ela vinha atrás, pousava no meu ombro, voava ao redor da minha cabeça e eu me apaixonei. À medida em que o dia passava fui sendo tomado por um pavor terrível por saber que borboleta não serve como animal de estimação e que, quando a noite chegasse ela iria fazer o que quer que seja que as borboletas façam quando anoitece e certamente me abandonaria”.
Pois é, apesar do bicho homem que, como um rei Midas ao contrário, em tudo que toca vira eca, ainda há alguma esperança para a humanidade, quando a vilipendiada borboleta pode ser o centro da inspiração de um adolescente criativo, nosso futuro como espécie que respeita as outras espécies ainda pode ser viável. Um Planeta onde homens e borboletas possam viver sem que o mais forte e menos racional deles extermine o mais frágil e mais bonito, é plausível e desejável. JAIR, Floripa, 15/08/09.

Disponível em: http://jairclopes.blogspot.com/2009/08/lepidopteros.html




 

2 comentários:

  1. Sandreli,
    Obrigado por ter prestigiado meu texto. Quando vi tuas belas fotos lembrei que havia escrito esse ensaio sobre as borboletas. Parece que teus registros fotográficos de qualidade acabam "casando" com aquilo que escrevo, de modo que uma parceria bloguística pode ser possível. Quem poderia imaginar que dois conterrâneos do Pinheiral de Baixo acabariam se encontrando web. Coisas da informática. JAIR.

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