segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Pinheiral dos Malucelli/Serraria




Não podemos falar da história de Pinheiral de Baixo sem mencionarmos a antiga “Serraria dos Malucelli”.
Chiquita Farias e Raimundo Osório foram os primeiros donos daquela imensa área, coberta por matas nativas e pinheiros seculares. Em 1930 os irmãos Malucelli –  Marcos, Vicente, Emílio  e Benjamim.–  comerciantes de madeira vindos de Três Morros, adquiriram aquelas terras e instalaram ali uma serraria.
Com a abundância de matéria-prima, a serraria tornou-se muito próspera. Ao seu redor surgiu uma vila e para atender as necessidades do povoado que crescia, ali construíram uma igreja, um clube, uma escolinha e um armazém de “secos e molhados”. Durante muitos anos a Serraria foi o centro de todos os acontecimentos da comunidade.
A paralisação das atividades extrativistas em 1960, motivadas pela escassez das árvores, causou um grande impacto em todos os habitantes e trabalhadores do Pinheiral. A população que dependia daquele trabalho espalhou-se. A Serraria transformou-se em lembranças, doces ou amargas...
No ano 2000, através do Projeto Brasil 500 anos desenvolvido pela Escola Municipal Pedro Gross Filho, a professora Vilma Czelusniak Freitas e a então professora Elizete Gross, convidaram o Sr. Reni Malucelli para vir até a escola contar aos nossos alunos como tudo aconteceu.

Devido ao esgotamento da matéria-prima (pinheiro) em Três Morros, a serraria da família Malucelli  mudou-se para Pinheiral de Baixo em 1930, sendo Baptista Malucelli o seu fundador. Aqui compraram as terras da família Faria Machado, mais precisamente de Francisca, e montaram a serraria para explorar o pinheiro, árvore nativa e abundante na região. Tudo aqui era floresta. As árvores eram derrubadas com serras traçadeiras (manuais), deixando livre o espaço para a construção da serraria. No início vieram trabalhar cerca de 10 homens sendo que os mesmos ficaram alojados em  um pavilhão.
Com o início da atividade extrativista criaram a marca MAVIEMBE, que nada mais é que as iniciais dos nomes dos quatros irmãos proprietários – Marcos, Vicente, Emílio e Benjamim Malucelli, segundo a ordem cronológica dos mesmos.
Em 1933 a firma sofreu um incêndio (causa desconhecida) e precisou pedir ajuda a outras empresas para conseguir se reerguer. O transporte de mercadorias e madeira era feito pelos carroções puxados por 8 animais.  Com o passar dos anos a empresa dos irmãos tornou-se muito próspera. Possuíam 5 serraria espalhadas na região (Poço Grande, Queimadas, São João do Triunfo, Vitorinópolis). Chegaram exportar seus produtos para Inglaterra e Dinamarca.
 O número de empregados era grande. Aproximava-se de 60 as casas construídas para abrigar as famílias dos trabalhadores. Para atender as necessidades da população que ali vivia, foi construído um clube para realização de bailes e outros festejos. Pessoas da comunidade e das redondezas tocavam gaitas, clarinete, pandeiro e outros instrumentos, tudo era muito animado. Aos domingos, ou em dias de chuva, jogavam baralho, bocha, pingue-pongue. Grandes festas aconteciam também no entorno da capela, cujo padroeiro era São José (escolhido por ser um santo que em vida trabalhou como marceneiro). Conta-se que nessas festas reuniam-se pessoas de todas as comunidades vizinhas além de pessoas ilustres da cidade.
A escola que existiu também foi criada pela firma. A professora chamava-se Alice (?) e havia aproximadamente 40 estudantes, filhos dos empregados e também alunos de Pinheiral de Baixo.
No armazém de “secos e molhados” existia de tudo, desde alimentos até tecidos que eram comercializados com todos os moradores da região. Quem não tinha dinheiro para comprar alguma mercadoria, fazia o negócio na base da troca, ou seja, fornecia algum produto agrícola ou pecuário e em troca levava sal, açúcar refinado, tecido, entre outros...
 Na época existia o Ford 29 que estava à disposição para qualquer emergência relacionada à saúde como acidentes e partos complicados. Essas pessoas eram levadas até Palmeira pela mesma estrada que usamos hoje (acesso pela Mandaçaia). Na época essa estrada era conservada pela firma, pois o então prefeito Benjamim Malucelli não fazia a manutenção da mesma para que não “falassem” que ele “puxava” pra família.
Por volta de 1935 surgiu o time do Pinheiral Esporte Clube. Em 1938 foram os campeões em Ponta Grossa e em 1939 perderam a final da “Taça Paraná” para o Coritiba, num placar de 10 x 0. O motivo da goleada foi a equipe passar a noite fora do hotel, pois com a ressaca adquirida não tiveram condições e defender o estimado time.
A firma permaneceu aqui durante décadas e, segundo o Sr. Reni, nunca se pensou em reflorestamento porque na época existia o INP – Instituto Nacional do Pinho, governamental, que controlava a quantidade de Pinheiro cortado. Eles eram os responsáveis pelo reflorestamento, pois a firma contribuía com uma porcentagem para cada metro cúbico de madeira cortada.
Quando acabou a madeira, a firma “juntou seus pertences” e mudou-se para Palmeira. Além da escassez da matéria–prima, houve falta de entrosamento entre os familiares e falhas administrativas. Esses fatores provocaram a falência da firma.


Em 1998, em parte das terras que pertenciam aos Malucelli, foram assentadas pelo INCRA, 14 famílias do MST. O restante foi leiloado recentemente.
Atualmente, na região em que existiu a serraria e as matas, há o predomínio das plantações de soja e o reflorestamento com as espécies exóticas pinus e eucaliptos.




Contam os "antigos" que no dia 21/06/1940, foi realizada a última missa na igrejinha da serraria. Já no dia seguinte, ela foi desmanchada e trazida para nossa comunidade por João Costa Filho ( Janguinho) e remontada com o mesmo modelo no terreno de João Costa Filho.

Atual Igreja do Pinheiral dos Malucelli.

Propriedade que pertenceu a Vicente Kovalski.

Tanque que abastecia as caldeiras da antiga serraria dos Malucelli.



 
Imagens do local aonde antes existia a
Serraria dos Malucelli.

No lugar em que existiu  matas nativas com pinheiros centenários, hoje predomina
plantações agrícolas e árvores exóticas como o pinus e o eucaliptus.

Os sobreviventes!



8 comentários:

  1. Sandreli,
    Consigo identificar a casa quase amarela da penúltima foto. Trata-se da casa de um dos Malucelli. Na década de quarenta e início da de cinquenta, morava ali o Marqueto ou Vicente Malucelli. As tuas fotos estão ótimas, JAIR.

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  2. Parabens Sandreli pela ideia do blog, muito bom..
    Sucesso sempre..

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  3. Sandreli,
    O texto ficou supimpa, como diríamos naquele tempo de Pinheiral. Quero acrescentar uma curiosidade: Nos tempos da segunda guerra mundial (1940 - 45) o dinheiro se tornou escasso, quase não havia numerário disponível para pagar os operários das madeireiras dos Malucelli. Então, com ou sem permissão dos poderes constituídos, os Malucelli lançaram uma moeda de cobre que era usada para pagar seus operários e aceita no armazém que você mencionou no texto. A moeda circulou bastante tempo e meu pai tinha uma de cinco mil réis que guardava como lembrança daqueles tempos duros. Infelizmente a moeda se perdeu, mas aí no Pinheira de Baixo deve existir alguma ainda, com gente mais velha. Abraços e parabéns pela postagem. JAIR.

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  4. Ola, estou impressionado com seu blog, estava buscando fotos antigas do município na internet e acidentalmente vim parar aqui.

    O conteúdo, tanto visual, quanto verbal é muito rico. É ótimo ver que há pessoas aqui que ainda cultivam expressões ricas em palavras, textos ou poesias.

    Parabéns, continue assim...

    Att, Osmir.

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  5. Sandreli, a respeito dessa postagem reproduzindo a "fala" do senhor Reni Malucelli, onde ele diz que era da competência do INP (Instituto Nacional do Pinho), criado em 1941, a responsabilidade pelo "reflorestamsento" das áreas dizimadas pelos exploradores do Pinheiro do Paraná (Araucaria angustifolia), sinto ter que contradizê-lo, pois o tal instituto tinha as seguintes competências, e nenhuma delas dizia que ele, "INP", era o responsável direto por reflorestar as matas dizimadas pelos "gafanhotos" sedentos do lucro pelo corte da madeira nobre do Paraná. Aí vão os principais atributos do INSTITUTO NACIONAL DO PINHO:

    I – coordenar e superintender os trabalhos relativos à defesa da produção do pinho;
    II – promover o fomento do seu comércio no interior e exterior do País;
    III – contribuir para o reflorestamento nas zonas de produção do pinho;
    IV – promover os meios de satisfazer os produtores, industriais e exportadores quanto às necessidades de crédito e financiamento;
    V – manter, em colaboração com o Ministério da Agricultura, a padronização e a classificação oficial do pinho;
    VI – fixar pregos mínimos; estabelecer quotas de produção e de exportação;
    VII – organizar o registro obrigatório dos produtores, industriais e exportadores;
    VIII – providenciar sobre a construção, em locais adequados, de usinas de secagem e armazéns para depósito de madeiras;
    IX – regular a instalação de novas serrarias, fábricas de caixas e de beneficiamento de madeira;
    X – promover a criação de órgãos industriais autônomos para a exploração de indústrias derivadas da madeira;
    XI – manter um serviço de estatística e informações;
    XII – fiscalizar a execução das medidas e resoluções tomadas, punindo os infratores de acordo com as penalidades que forem fixadas no regulamento do Instituto Nacional do Pinho (I.N.P.);
    XIII – instituir e organizar os demais serviços necessários à realização dos seus objetivos.

    É muito mais fácil atribuir a um Órgão do Governo (INP), já extinto, a responsabilidade pela falência de empresas — que só se preocuparam com o enrequecimento pessoal e lucro imediato, esquecendo inclusive, das obrigações sociais com seus empregados —, do que assumir a incompetência dos seus pares na gestão da empresa.
    Abraços,
    Ruy.

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  6. Resgatar a história da nossa terra e gente é muito importante.
    Eu como paranaense, adorei o blog e revivi momentos especiais.
    Muito bom pessoas como Sandreli, deixar viva na memória, pois perpetua a nossa história.
    Parabéns.
    Att, Getulio Hannemann.

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  7. Apenas para constar; a informação da igreja ter sido desmanchada em 1940 é equivocada, pois minha mãe, Lusia (da família "Hembeker Osório"), nasceu (1949) e viveu muitos anos no Pinheiral, e tem diversos relatos dela sobre brincar no entorno da mesma igreja. Inclusive quando ela leu esta postagem foi a primeira coisa que comentou.

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